20 abril 2017

Saudade

Hoje eu quero falar sobre a saudade, mas cuidado, esse texto tem cunho muito pessoal. Poderia falar aqui sobre todo o tempo que passamos longe, de toda essa maldita distância que nos separa, poderia falar de quantas vezes pensei nele e não pude mandar um simples "oi" para tentar amenizar a dor que eu sentia no meu peito. Poderia mencionar as vezes que entrava em sites de busca de passagem só para me enganar com a (im)possibilidade de lhe encontrar, mas não. Excepcionalmente hoje não falarei disso. 
Ouço repetidas vezes, de muitas pessoas a palavra "louca" e todos os seus sinônimos, e confesso, se não fosse comigo eu também acharia insanidade tudo isso. Só que, o que as pessoas não veem, é que no meu coração a loucura é bem maior. É que naquele dia, há pouco mais de dois anos a gente se esbarrou, e aí a loucura já começou. Nos encontramos em uma festa com aproximadamente mais dez mil pessoas, logo já nos identificamos, foi como se já o conhecesse, foi como se a gente se reencontrasse. Indo na contramão das relações que as pessoas tinham na festa, a gente trocou contato e no dia seguinte, nos reencontramos. Os abraços eram quentes e o sorriso fácil. Conversamos muito! Nos conhecemos de verdade, mas infelizmente, em algumas horas ele estaria voltando para a sua cidade. 2.200km, essa era a distância que nos separaria em menos de um dia. Imaginei que fosse coisa de momento e que a vida voltaria ao normal como se nunca tivesse o conhecido, mas foi mero engano. A vida continuou, é verdade, eu daqui, ele de lá. Nos relacionamos com outras pessoas, fomos à festas, trabalhamos, estudamos. Continuamos conversando e felizes com as conquistas um do outro. Nada de diferente, extraordinário, até que, com a proximidade do meu aniversário eu buscava um destino para fazer o que mais gosto na vida: viajar. Ele namorando, eu não poderia simplesmente aparecer la. Decidido: Rio de Janeiro. Até que uma conversa despretensiosa surge no meu WhatsApp e trocando ideias ele me diz que está solteiro. Pronto, mudança de planos! Viajarei os 2.200km. Em pouco tempo decidi, comprei as passagem e estou indo. Parece loucura não é?! E é, mas é uma loucura tão boa!
A saudade já deu espaço à ansiedade. Por tanto tempo senti um enorme aperto no peito. As fotos visualizadas, as conversas relidas, as stalkeadas, a preocupação em saber se estava tudo bem. Aquela vontade de entrar no celular como se eu fosse sair do outro lado e pudesse matar o que estava me matando. Esse maldito sentimento guardado tanto tempo dentro de mim hoje já não existe mais, hoje o que me consome é a ansiedade. Um pulsação tão forte e intensa como se o coração fosse saltar do peito! As lágrimas que se tornam inevitáveis ao pensar que em pouco tempo a distância vai deixar de existir. O pé batendo incessantemente como se isso fosse adiantar. Hoje a saudade vai sair de cena e aí eu até aceito o título de louca. Louca por ir ao encontro de alguém que eu nutri tanto carinho em tão pouco tempo, louca por ir atrás de alguém com quem tenho uma relação de amizade, companheirismo e confiança que nem mesmo o tempo e distância conseguiram abalar. Louca por deixar que o coração fale mais alto que a razão. Realmente não sei explicar o sentimento que tenho por ele, apenas sei o que sinto e como isso é bom. As lágrimas escorrem por não ver a hora desse avião pousar e sair correndo pelo aeroporto por não aguentar mais 1 segundo longe. A ansiedade de finalmente reencontrar e dar todos os abraços que ficaram guardados durante todos esses anos. A saudade finalmente está com as horas contadas. Eu estou chegando!!

13 abril 2017

Você não estava tão afim

Eu percebi que você não estava tão afim, quando minha rotina (ou mania) de pegar uma xícara de café e ir para a janela observar como as pessoas começavam seu dia te incomodava.
Percebi que você não estava tão afim quando minha mania de dormir de meias mesmo no verão te deixava desconfortável.
Percebi que você não estava tão afim quando você reclamava da minha necessidade de manter a pia da cozinha sempre seca.
Eu percebi sua falta de interesse em cada pequena e insignificante mania que eu fazia questão de manter e que te incomodavam a ponto de você sempre armar uma briga para que as coisas saíssem do seu jeito. 
Percebi que você não queria tanto quando reclamava do cheiro do incenso que eu acendia para tentar tirar a tensão da minha casa.
Eu demorei para perceber, mas percebi, que relacionamento é via de mão dupla, é flexibilidade, é saber ceder e estar disposto a amar o outro mesmo com tudo que julgamos imperfeito, e eu percebi que você não estava tão disposto a fazer isso por mim. Não queria parar de deixar a toalha molhada em cima da cama, não acertava o cesto de roupa suja, não recolhia a xícara do café. Não queria mudar pequenas manias que me incomodavam, mas queria que eu me moldasse para que na sua vida você estivesse satisfeito. 
Eu finalmente percebi que eu não podia me moldar tanto para caber na vida de alguém que não queria mudar uma vírgula no meio da frase para me agradar. 

12 abril 2017

Minha flor roxa

Uma vez eu plantei uma flor. Eu joguei a semente e adubo, reguei e cuidei. Apesar de saber que alguém poderia passar e arrancá-la, eu cuidei. Cultivei. Eu gostava dela, não era rosa, nem margarida, eu sequer sabia que tipo de flor era, mas era a que eu cuidava, era a que eu cultivava e isso já era suficiente para eu amá-la. Ela passou a fazer parte da minha rotina: às 6h eu acordava e corria, às 7h eu tomava banho, às 7:30 eu sentava e tomava café com panquecas ou torradas e geleia, às 8h eu ia cuidar da minha menina. Berenice. Sentava, regava, dava à ela o sol necessário para a fotossíntese, conversava e por vezes até resposta tinha. Obviamente não ouvia ou trocávamos palavras, mas pra mim, a aparência dela sempre falou muito. Os dias mais sombrios para mim, eram sempre desanimadores para ela. Ah Berenice, como eu amo você. Como você têm me dado força, como você têm sido um motivo a mais para eu acordar.
Sempre que os vizinhos me viam com a Berenice a elogiavam: que linda sua flor!Isso me enchia de orgulho e ela parecia ficar mais radiante ainda.
Um dia choveu. Muito e intensamente. Fortes ventos e trovões. Fiquei com medo, assustada, amedrontada, pedindo que nada levasse minha pequena e frágil flor. Galhos voavam e eu já quase tinha perdido a esperança de que minha flor continuasse no jardim. No dia seguinte, saí cedo pra correr, tomei meu banho, e comi minhas torradas. Peguei uma xícara de café e fui, triste ver o que havia sobrado da Berenice, e  para meu espanto ela estava lá, linda, forte, radiante e mais roxa do que nunca. Parecia que todos os raios de sol queriam dar bom dia a ela. Iluminada, viva, linda.
Comecei a conversar com ela, falar do quanto eu achava fantástico tudo aquilo e do amor com que ela foi plantada e cultivada. Só eu falei -obviamente-, mas ainda assim, foi eu que aprendi.
Aprendi que algo cultivado e cuidado com amor, não se desfaz com a tempestade. Aprendi que o empenho, a dedicação e o esforço nunca é em vão. Aprendi a amar as coisas independente de ter retorno ou não. Aprendi e continuo aprendendo a dar amor, afeto, carinho, atenção. O amor nunca é desperdiçado, o amor nunca é jogado fora, ele é fonte de energia, vitalidade, ele é a fortaleza. Ele é a força que se mantém depois do furacão. Ele mantém tudo vivo, tudo forte. O amor é a base que se sustenta em qualquer circunstância. Se tem amor, não importa a o tamanho da tempestade, no dia seguinte, a flor desabrocha e sorri pro mundo, porque o mundo vai sorrir pra ela também.


Meu jardim

Tentei deixar para trás tudo que me incomodava e prendia, tentei levar comigo apenas os bons aprendizados e os momentos felizes, mas infelizmente a vida é feita de lições boas e ruins, e eu não poderia simplesmente separá-las e levar apenas o bom, o ruim também precisava de lugar na bagagem. Fui tentando extrair as lições das coisas ruins e saber agir quando elas me afrontarem novamente. Porque a gente é assim, precisamos evoluir e enfrentar nossos medos, desafios, nossas limitações. Precisamos crescer em cada tropeço e aprender que lidar com o outro é ser flexível. Não podemos moldar o mundo conforme nossas crenças, assim como não podemos deixar que os outros nos moldem pela crença alheia. As relações precisam ser vias de mão dupla.
Num dia um cede, no outro é o outro e assim mantém-se a harmonia. Tropeçar também é aprender, é crescer, é evoluir. Nem todo tropeço nos faz quebrar a cara, nem todo tropeço nos tira a paz, o chão. Apesar de achar que você pudesse ser o meu maior erro, eu ainda persisti em te levar comigo, não na melhor das bagagens, não no melhor dos aprendizados, mas em um que eu sei que cresci e crescerei muito ainda.
Eu tentei, tirar e deixar tudo de ruim, tentei apagar um passado, tentei esquecer toda a dor, mas eu também precisaria deixar as lições e eu não posso ser uma pessoa melhor se eu não aprender todos os dias, então decidi que levaria tudo comigo, e ao falar disso, eu sorriria, não para maquiar um fato ou fingir felicidade, mas sim, para mostrar pro mundo, que apesar de tudo eu me mantive forte, que eu ainda posso sorrir e que nada, por mais doloroso e cruel que seja, pode me destruir por completo. Nada vai tirar de mim a leveza da vida e a vontade de viver, nada vai arrancar de mim o jardim que trago no peito, porque se já foi treva, hoje é flor!

05 abril 2017

Nossa Casinha Amarela!


Quando eu era criança passava as férias de verão na casa de praia dos meus avós. Perto de lá havia uma casa amarela, de madeira, sempre com a grama bem verdinha em volta; A casa tinha uma varanda de vidro e dava pra ver do lado de fora que, por dentro, era tudo muito rústico e arrumadinho. O quintal era amplo e tinha até rede para jogo de vôlei.
Sempre que passava por ela, eu ficava imaginando como seria bom o dia que eu tivesse dinheiro para comprá-la, e isso me motivava a estudar mais, brincar mais. Eu sabia que se me esforçasse bastante eu conseguiria e ia ter momentos muito felizes lá. Repetia esse ritual por muitos verões, passava em frente, sonhava acordada, abria um sorriso e tinha a certeza que iria cuidar bem daquele pedacinho de mundo.
Pouco mais de um ano, devido a fortes chuvas, um poste caiu em cima da casa, o curto-circuito provocou um grande incêndio que a fez desabar. Não sobrou nenhuma das tábuas amarelinhas pra que eu pudesse guardar de recordação. A construção agora dará lugar a uma nova casa, ou um prédio ou até mesmo uma vendinha de doces... Quem sabe? A placa do terreno marcado pelo fogo só diz "vende-se", junto ou número de telefone do dono. Não me deram nenhuma satisfação do que poderá surgir no "meu" cantinho. Isso me agoniou tanto. Ahhh como essa incerteza atormenta.
 A casinha deixou um vazio no meu peito e por um tempo eu fiquei procurando motivação pra continuar. Mas agora que não tem mais a casinha, para quê juntarei dinheiro? Para quê trabalharei bastante e juntarei o dinheiro se ela não está mais lá? Eu, que tanto gostava de me imaginar morando lá, agora terei que procurar outra casinha pra sonhar? Ou construo uma nova casa? Mas e as lembranças que não serão iguais.  -Ah, deixa isso pra lá, vou pensar em outra coisa, outro terreno, outra casa... Será? 
-Não dá, não! Eu quero aquela casa! Igual! Não quero outra!
Eu ainda passava lá e ficava de vigia, cuidando do terreno, imaginando a casa de volta e tempo depois me ajuizava do quão boba era por ficar pensando e naquilo. 
Porque insistimos em fazer isso? Zelar, vigiar aquilo que "não é mais nosso"? Assim como o terreno e como a casinha amarela, são as nossas relações, é a nossa vida! Somos tão fiéis ás memórias, ás boas recordações, ao que "acreditamos" ser o motivo do nosso acordar matinal, que não abrimos o coração para as novas possibilidades.
Que saudável era quando eu fuxicava com os vizinhos da casa de praia pra saber o que construirão naquele terreno? E se me dissessem que será construído um prédio na cor roxa? Sempre detestei a cor roxa e mais ainda a possibilidade de um prédio naquela praia. Qual o sentido de me torturar com isso? Mas e você? Que saudável é você perguntar a um colega como anda o relacionamento interpessoal naquela empresa que você foi demitido depois de brigar com alguém? Vai te fazer bem saber que a noiva do seu primeiro namorado estava linda na formatura de Direito e que nesse dia ela deu a notícia que eles estavam esperando o primeiro filho?
Isso é tortura desnecessária. Superar é preciso, e pra isso é preciso desatar amarras com o passado.
Desejar o melhor às pessoas que entram e saem da nossa vida é o mínimo que se espera de nós, seres humanos. Mas o ego nos fere, o orgulho... E é nessa hora que temos que nos frear, parar de depositar emoções em relações falidas, em objetivos inalcançáveis. 
Saber a hora de abrir o coração para novas possibilidades é mais umas das chaves para a felicidade. 
Trace novas metas, concentre-se no seu novo trabalho, no seu novo amor, na nova casa ou pelo menos lute para obter toda essa novidade boa.
Quem nunca teve uma casinha amarela que pegou fogo e desestabilizou estruturas, modificou sonhos?
Dá um medo só de imaginar alguém fazendo a nossa função no trabalho, na nossa rotina. Dá um medo gigante só de imaginar que alguém possa "roubar' nosso lugar na vida "daquela pessoa". Dá um medo de mudar os planos, desviar o foco, eu sei! 
O tempo entre a mudança de plano, a desestruturação do ideal, a aceitação e a percepção da melhora é looooooooooongo, doloroso... Mas temos que acreditar! Crescemos rodeados de exemplificações que mostram incansavelmente uma mudança, quase sempre, benéfica. No mínimo nos trará experiência. É só observar com atenção.
Quer um exemplo?
Lembra de quando andávamos de bicicleta com rodinhas? Era seguro, prático, não tinha risco de cair. Pra quê tirá-las? Pra quê sair do certo, do confortável? O choro, o medo... Nossos pais nos impuseram essa "dureza" porque já sabiam que seria o melhor pra nós, a gente só acreditou quando viu o resultado. Aprendeu a pedalar sem as rodinhas.
E que sensação, eim? Liberdade, movimento, velocidade....  
Quem sabe o destino não é como nossos pais? Tirando algo da gente para que tenhamos algo muito melhor, que faça a gente mais feliz. 
É assustadora a possibilidade do novo, do incerto. Medo de que algo seja construído sobre as nossas recordações, sobre o que sonhamos, planejamos, sem que estejamos mais presentes. Mas acredite, é mais assustador depositar energia, expectativa, tempo, amor em algo que não vai dar retorno, projetos que não se realizarão. Viver na inércia não é viver, é apenas existir! 
Que tal tentar algo diferente... Vamos abrir a cabeça e o coração para as novas possibilidades?

Obs: Estou de olho em um apartamento no centro da cidade, é um prédio que aceita animais e eu sempre tive vontade de ter cachorro mesmo. Dizem também que o bistrô que tem ao lado dele é maravilhoso. Quero conhecer 💖

04 abril 2017

Sem querer, te quero tanto

Eu sempre tento manter meu discurso de solteira que vive bem assim, não é da boca pra fora, não é um discurso utópico, eu vivo bem mesmo assim. Eu sou dona de mim, vou onde quero, quando quero, com quem quero, sem empecilhos e isso pra mim é maravilhoso. Aprendi a não depender de ninguém para ser feliz, aprendi que fazer as coisas sozinha -ou na minha própria companhia- é maravilhoso. Ser solteira pra mim nunca gerou desconforto ou problemas, pelo contrário, eu ter ciência de que não preciso de ninguém me da até mais segurança e eu levo isso numa boa. Sou tão feliz que nunca cogito a possibilidade de ter alguém, mas sempre aparece aquele alguém...

Sempre surge aquela pessoa que me faz proferir o discurso da boca pra fora, que me faz enganar todos à minha volta e por vezes tento até me enganar com o discurso de que "sim, estou bem assim". É, às vezes eu me engano com esse discurso de não querer nada nem ninguém, às vezes entro num ritmo tão natural de solteirice que  tento fingir que não quero ninguém, luto contra meus dragões interiores para dizer que eles não têm fome de amor, de carinho, de afeto, mas não adianta, esse sentimento é algo tão grande que ele explode e me faz cair na realidade, me faz ver que eu posso ser bem sozinha sim, mas que às vezes eu preciso de alguém, e mesmo sem querer, eu quero.
Quero você que apareceu do nada, despretensioso. Quero você que traz paz, que traz serenidade. Quero você que me acalma nos meus dias mais estressados, que me abraça nas crises de ansiedade. Quero você que não pergunta o motivo do choro, mas me dá o colo que acalma. Você que veio devagar, sorrindo de mansinho e entrando na minha vida como o movimento de uma montanha russa: de forma gradual e repentina. De mansinho e impulsivo.

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