O telefone tocou. Em fração de
segundos me passou um filme na cabeça, e eu já não sabia se devia ou podia
atender. Tinha medo mas eu precisava saber o que iria ouvir. Na verdade, eu não
precisava, eu não queria, tinha apenas curiosidade. Tudo ficou pra trás, as
respostas que eu buscava, hoje já não preciso, mas a minha curiosidade quer ser
saciada, e talvez atendendo essa chamada ela sossegue e eu não me atormento
mais com esse assunto. O telefone não para de tocar. E eu estou me corroendo.
Me matando aos poucos. Mas a mesma curiosidade que me mata aos poucos, pode me
matar repentinamente. Não atende. Atende. Minha mão já está posicionada para
atender. Minha razão não deixa. Não, não atende. É algo ruim, você não precisa,
você não quer. São respostas de perguntas que eu já não tenho mais, ou talvez
já tenham sido respondidas, mas nos últimos dias me tranquei no meu mundo, tão
isolada que me deixei corromper pelas minhas próprias ideias. Mas o telefone
não para de tocar. Talvez eu precise atender, para dizer que eu já não preciso
mais. Ou talvez queira atender pra decidir, se ouço a razão ou o coração.
Maldito coração, sempre vence: “-Alô”.
